Escrito por: Deyvison Ramos / @deyvison.s.ramos
Educador, a pergunta que dá vida a este texto pode ser prontamente respondida por qualquer hipnoterapeuta que tenha estudado suficientemente para saber a relação entre hipnoterapia e “reeducação emocional”. Afinal, a maioria das formações apontam a necessidade de “reprogramar a mente”, “ressignificar eventos” e outras expressões tão comuns em nosso meio.
O hipnoterapeuta, em certo sentido, é um agente de mudança, embora, saibamos, que o protagonista é sempre o cliente. Este texto, no entanto, busca mostrar a relação entre a hipnoterapia e a educação formal numa instituição de ensino. Uma vez que os estudantes são pessoas com emoções, e um número não negligenciável deles carrega sofrimentos e pressões que a maioria de nós nem sequer tem ideia.
Gostaria de fazer uma pergunta a você, terapeuta: como seria sua vida se, na escola, você tivesse acesso ao conhecimento que tem hoje?
Aprendemos muitas teorias sobre como um trauma se estabelece, como os eventos causadores de dores emocionais estão intimamente ligados a um fato na infância, sobre como as palavras que ouvimos, ainda pequenos, influenciam ou dominam nosso modo de sentir e agir na vida adulta… Mas será que este conhecimento de hoje teria sido de grande ajuda na sua infância?
É possível que sim.
É possível que, ao ter contato com este conhecimento, você, educador, pudesse ter evitado uma série de dores, mas a verdade é que se tratam de possibilidades, apenas. Isso porque a forma como você adquiriu este conhecimento pode não ser a adequada para uma criança ou para um adolescente.
E você, que não é terapeuta, consegue imaginar sua vida tendo uma educação que valorizasse não só o desenvolvimento intelectual, mas também o emocional?
O educador no Brasil
Quantas vezes você se viu numa situação de extrema insegurança e nervosismo ao apresentar um trabalho? E aquela vez que você precisou fazer uma prova importante depois de ter estudado muito e, no momento da avaliação, “travou”?…
Aliados a tudo isso, o bullying, o medo daquele professor carrasco, os problemas familiares e tantas outras pressões pessoais lhe fizeram sentir-se inferior e infeliz e atrapalharam seu desenvolvimento emocional. E é aqui que introduzo o argumento de que os educadores precisam de educação emocional.
A vida dos educadores no Brasil é um desafio constante, que busca administrar a vida pessoal, a profissional e a vida de tantas pessoas que dependem de seu desempenho. Os educadores são figuras importantes na vida de todos os estudantes. O contato com eles é tão forte, que deixa marcas para toda a vida.
Isso porque os estudantes passam horas, dias, meses, anos tendo contato com esta figura, que ensina, exige, avalia e, em situações de estresse, também briga. Há um relacionamento tão forte que, mesmo depois de tantos anos, a memória do rosto, da voz e das aulas ainda é muito viva. O educador é uma pessoa que marca.
Mas o educador também é marcado.
A verdade que dói
O desafio do professor, hoje, é completamente diferente do desafio dos professores de cinquenta anos atrás. Se antes havia disciplina, hoje, em muitas unidades de ensino, há cansaço, medo e desânimo.
Se antes os estudantes esforçavam-se para obter boas notas, hoje muitos esforçam-se para tirar o mínimo necessário para não serem reprovados. A educação é desvalorizada, os educadores são vistos como meros “transmitidores” de conteúdo.
Assim, a grandeza do ensino fica submetida ao pragmatismo e a uma visão limitada de que a educação é somente um ritual de passagem sem o qual a pessoa não conseguirá um emprego regular.
E o cansaço resulta no trabalho automático, pelo qual os professores se esforçam para também dar o mínimo necessário, que é a demanda atual. São pessoas que precisam de ajuda, educadores e estudantes, pessoas que têm suas necessidades e que estão perdidas, sem terem quem os oriente adequadamente.
Fazer terapia não é somente um ato de amor-próprio, mas um ato de amor coletivo. Todas as pessoas ao redor de quem cuida da própria saúde mental são tocadas. É uma atitude de generosidade.
A saúde mental
Quando um educador cuida de sua saúde emocional e entende seu verdadeiro papel no auxílio do desenvolvimento dos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais, como orienta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ele percebe que sua missão vai além da simples transmissão de conteúdo teórico.
A missão do educador engloba as habilidades para ajudar em todos os aspectos que se espera, de acordo com a BNCC. E se o próprio documento normativo que rege a educação brasileira determina que o ensino deve visar, entre os aspectos já citados, o desenvolvimento socioemocional, é de se esperar que este desenvolvimento também se dê no educador.
A minha visão da mudança
Assim que me formei hipnoterapeuta na OMNI eu comecei a atender em consultório imediatamente. Porém, eu cultivava um desejo de ensinar, ser professor em uma escola e compartilhar todo conhecimento que recebi de maneira gradual e constante.
Hoje leciono Filosofia e Sociologia no Ensino Médio em uma escola da rede privada de Niterói – RJ e percebo o quanto ainda é difícil associar o desenvolvimento intelectual com o socioemocional.
Encontramos, em sala de aula, muitas histórias, muitas dores e experiências, e não se pode tratar todos os estudantes de maneira padronizada. Cada um deles apresenta uma demanda, uma necessidade.
O educador, nestes casos, não precisa ser terapeuta, mas o conhecimento em desenvolvimento emocional certamente lhe dará ferramentas poderosas para ajudar os estudantes a criar novas habilidades, melhorar a autoestima, enxergar a própria vida por um outro ângulo de observação que fuja do padrão pessimista e angustiado no qual muitos se encontram.
O investimento que gera mudança
Para um melhor aproveitamento das próprias capacidades, o educador precisa investir em cuidados pessoais, buscando o conhecimento necessário sobre si e sobre como superar suas dificuldades atuais.
E conhecer o funcionamento da mente e de todo o desenvolvimento humano ajudará você a crescer e ensinar melhor. Pois a sua paixão pela missão que acredita ter pode ganhar novo fôlego a partir do momento em que se chega à conclusão de que: quando o estudante não presta atenção, não estuda e não participa das aulas, na maioria das vezes, não é porque ele odeia o professor ou a professora.
Mas é porque nem mesmo ele sabe o que quer ou simplesmente está sofrendo também. E a dor pode ser manifestada de diversas maneiras, seja no silêncio e no desinteresse, seja na agressividade e na falta de respeito.
O educador, enquanto adulto, precisa sempre se recordar de que não é o alvo e que, mesmo que um aluno o trate mal, sua missão e paixão não deve ser abalada. E se isso acontecer, o que será que este professor carrega dentro de si para se incomodar ou sofrer por uma provocação? Para saber, terapia!
Enquanto professor e hipnoterapeuta, a dica de ouro que sempre darei a todos os educadores é investir no conhecimento da própria mente. A hipnoterapia, como é no meu caso, não se limita somente ao atendimento em consultório com induções formais e todo o processo padrão, mas tem uma aplicação prática tão abrangente que pode surpreender a muitos que não conhecem ainda seu potencial prático, simples e poderoso, pois a educação é um relacionamento que transforma educadores e estudantes em pessoas melhores.
Deyvison Ramos
Professor / Hipnoterapeuta OMNI
@deyvison.s.ramos